Última hora: Miguel Sousa Tavares
Miguel Sousa Tavares, conhecido jornalista e adepto do FC Porto, deu a sua opinião sobre a polémica do passado fim-de-semana, quando o árbitro anulou uma grande penalidade aos dragões sem ver as imagens. O encontro acabou com um empate a uma bola frente ao Arouca.
Texto de Miguel Sousa Tavares na íntegra:
“Com telefone ou sem telefone, com VAR ou sem VAR, vejo com grande tristeza o meu clube protestar e querer ver repetido um jogo por conta de um penálti que não foi penálti, mas apenas uma lastimável simulação de Taremi. Aliás, essa atitude de Taremi, infelizmente recorrente, e o forrobó que se lhe seguiu foram o pretexto ideal para que aqueles cujo principal clube é o anti-FC Porto fizessem destilar o seu ódio sempre à flor da pele. Até vi escrito que os acontecimentos do Dragão deveriam levar o Benfica a ponderar se não deveria abandonar um campeonato onde está o FC Porto – o mesmo Benfica que ainda estará a ponderar se um dia nos conta para que queria e que destino deu aos milhões do ‘saco azul’…
E também serviu para que alguns ‘especialistas’ de arbitragem deixassem de ver também penálti no castigo falhado por Galeno, como se aí as imagens televisivas não tivessem mostrado Taremi a ser puxado pela camisola, ao nível do ombro; ou, estranhamente, a não se ocuparem do lance em que o guarda-redes do Arouca soca metade na bola metade na cara de Navarro, em outras ocasiões por eles considerado “negligência grosseira” e punível; ou da bola que bate no braço de Cristo González, ajudando ao seu controle antes do remate vitorioso, noutras ocasiões considerado como jogada involuntária mas anulável; ou a falarem dos 23 minutos de descontos, fingindo ignorar que, desses 23, só em 9 a bola esteve em jogo.
Mas, repito, o essencial é que, em desespero de causa, o FC Porto queira ver revertida a seu favor uma decisão errada do árbitro, corrigida por uma decisão acertada do VAR. Em nenhuma circunstância, na vitória ou na derrota, o meu FC Porto pode deixar-se cair em atitudes que são características do Sporting e não nossas.
Dito isto, eu também protesto o jogo. Protesto-o junto de Sérgio Conceição e com a autoridade de quem sempre o defendeu e admirou. Aquela primeira parte do jogo, repetindo tal e qual o que já se havia visto nas anteriores jornadas, é simplesmente inadmissível. Quando a equipe entrava mal, António Oliveira – que eu também muito admirei como treinador do FC Porto – não perdia tempo à espera: aos 20, 25 minutos, já estava a tirar do campo quem não estava ali a fazer nada. Com Sérgio Conceição, pelo contrário, é preciso esperar até à hora de jogo ou mais, para ele ver o que todos estamos a ver. E, pior: de jogo para jogo, repete os mesmos, não importa se os seus titulares não jogam nada e os seus suplentes é que salvam os jogos: eu, pessoalmente, já não aguento ver a inutilidade de Eustáquio (e perigosa, com as suas faltas recorrentes e estúpidas, que já nos fez perder um campeonato), as fintas e fintinhas sem sentido de Pepê a jogar para o seu clube de fãs, ou a esforçada incapacidade de Toni Martinez a quem qualquer defesa ganha em velocidade ao pé coxinho. Mas eles lá continuam, inamovíveis, enquanto os recém chegados, embora dê para ver que são bem melhores, têm todos de esperar um mês por uma oportunidade a sério porque a vaidade de Sérgio Conceição lhes exige, e aos adeptos, um longo tirocínio de adaptação às geniais ideias do treinador.
E, entretanto, vamos vendo uma equipe sem um assomo de ideias, um rasgo de criatividade, com uma doentia incapacidade de fazer chegar a bola aos avançados e de criar oportunidades de golo, a que a orfandade de Otávio explica muito, mas não justifica tudo – sobretudo quando no banco ficam sentados a ver, Alan Varela, Ivan Jaime, Gonçalo Borges ou Fran Navarro. Quando, jogando em casa contra o Arouca, se faz o primeiro remate à baliza aos 35 minutos e, quatro jornadas volvidas, continua a não existir a mais pequena ideia de como cobrar livres ou cantos, o responsável só pode ser um: o treinador.
Escrevi aqui na semana passada que o melhor cobrador de penáltis do FC Porto é Marcano. Não só por isso, mas também porque tinha sido o salvador da equipe nos dois últimos jogos e estava pois com o “pé quente”, além de ser o capitão, deveria ter sido ele o escolhido e não Galeno para cobrar o que podia ter sido o penálti da salvação. Mas Sérgio Conceição é que é o treinador e tem outras ideias. Durante muito tempo, apostou em Taremi, que umas vezes acerta, outras falha – o que quer dizer que não é nenhum especialista. Desta vez resolveu apostar em Galeno, que é talvez o melhor jogador da equipa, actualmente. Mas pode ser-se um grande jogador e não saber marcar penáltis e Galeno demonstrou como não se deve marcar um penálti: em força e para o meio da baliza. Lá em cima, trancado na sua prisão de vidro de onde vem acompanhando o campeonato, espero que Sérgio Conceição tenha aprendido também esta lição.
Treinadores ou ditadores?
Por erros ou inércia das respectivas direcções, os treinadores de Porto e Benfica vêm assumindo poderes cada vez mais imperiais nos clubes que servem. Sérgio Conceição é a um tempo vítima e aproveitador da desastrosa gestão financeira do FC Porto: tiram-lhe os melhores jogadores esperando os mesmos resultados, e ele reage com exigências por vezes sem sentido desportivo e igualmente financeiro. Agora, o preço que a SAD pagou pela venda de Otávio à revelia do treinador, foi a birra deste contra a contratação de João Moutinho, a exigência (bem-vinda e cara) da compra de Ivan Jaime e o regresso sem qualquer sentido, a não ser o do reagrupamento familiar, de Francisco Conceição.
No Benfica, a maneira indecente como Roger Schmidt matou o passado de Vlachodimos no clube e talvez tenha comprometido o seu futuro profissional, num misto de arrogância e ingratidão, manchou o clube e a SAD (que a tudo assistiu inerte) e deixou inevitavelmente uma marca junto do grupo de trabalho. Doravante os jogadores sabem que, se as coisas correrem mal, o treinador não se importará de sacrificar alguém para salvar o próprio pescoço.
Sorte não basta
Benfica, como habitualmente, e FC Porto, tiveram sorte nos respectivos sorteios da Champions. O Sp. Braga já não teve a mesma sorte nem tal era de prever saindo do Pote 3, mas já foi notável a sua qualificação para a fase de grupos. E, enfim, o Sporting tem uma passadeira estendida para seguir para a fase seguinte da Liga Europa. Se os três maiores justificarem a sorte havida e o Braga conseguir o mais que lhe é expectável (o 3º lugar e continuação na Liga Europa), estão reunidas as condições para começarmos a recuperar pontos à Holanda com vista ao regresso à 5ª posição no ranking da Championss. Mas, como disse Nelson antes de Trafalgar, para tal é preciso que cada um cumpra o seu dever.”